26 Julho 2023
"Discernimento é uma palavra importante na sinodalidade. Mas quem está discernindo o que para quem? O povo de Deus concorda que a missão da Igreja é levar o Evangelho ao mundo. Essa tarefa é o principal dever do diácono".
O comentário é da teóloga estadunidense Phyllis Zagano, pesquisadora da Hofstra University, em Hempstead, Nova York, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 25-07-2023.
Você deve ter ouvido falar que a Igreja Católica está realizando um Sínodo sobre a sinodalidade com o objetivo de reunir todos para falar sobre a Igreja. O objetivo de todas as reuniões – todas as conversas e orações – é que as pessoas entendam a missão da Igreja. Ou seja, pensar em como difundir o Evangelho da maneira mais eficaz para suas culturas.
O processo começou em outubro de 2021 em nível local, com dioceses e grupos eventualmente enviando relatórios a Roma. Então, Roma enviou um "Documento para o Estágio Continental" a sete assembleias continentais (África e Madagascar; Ásia; Europa; América Latina e Caribe; Oceania; Oriente Médio; e América do Norte) e sintetizou suas respostas.
Em junho, a Secretaria do Sínodo publicou o Instrumentum Laboris, ou documento de trabalho para o encontro que será realizado na enorme sala de audiências Paulo VI, na Cidade do Vaticano, em outubro. Logo depois, apareceu a lista de quase 450 participantes do sínodo, dos quais cerca de 364 são membros votantes; outros são especialistas ou facilitadores. Além do Papa Francisco, entre os votantes e não votantes, haverá cerca de 273 bispos, 67 padres, 37 religiosos e religiosas não ordenados, outros 70 leigos e leigas e um diácono, o diácono belga Geert de Cubber.
Você não saberia pela lista que de Cubber é, de fato, um diácono ordenado. Ele está listado como "Sr." não "Rev. Sr." ou "Dcn.", como é o costume geral. Existem alguns outros erros. O nome do cardeal de San Diego, Robert McElroy, está escrito incorretamente. Dois padres, o Rev. Eloy Bueno de la Fuente (Espanha) e o Rev. Eamonn Conway (Irlanda) não são apontados como tais. Pode haver alguns outros pequenos erros aqui e ali. Pode até haver outro diácono ou dois, mas provavelmente não.
Houve vários diáconos nos vários processos sinodais, desde os esforços paroquiais e diocesanos até os níveis nacional e continental, mas o fato de haver apenas um diácono em toda a assembleia diz muito. Afinal, levar o Evangelho é uma tarefa diaconal importante, literal e figurativamente.
Durante a missa, o diácono carrega o Evangelho e proclama a leitura do Evangelho e muitas vezes prega. Os diáconos também estão frequentemente ligados à caridade e aos serviços sociais da Igreja.
Os ministérios diaconais são realizados principalmente por mulheres e, em 2016, a União Internacional das Superioras Gerais, a organização das superioras dos institutos religiosos femininos, pediu a Francisco que examinasse a restauração da tradição abandonada de ordenar mulheres como diáconas.
Duas comissões pontifícias prepararam relatórios privados para Francisco sobre essa questão.
Agora, de acordo com o Instrumentum Laboris, "a maioria das Assembleias Continentais e as sínteses de várias Conferências Episcopais pedem que seja considerada a questão da inclusão da mulher no diaconato".
Sobre isso, pergunta: "É possível imaginar isso e de que maneira?"
Muitos, se não a maioria, dos católicos pensam que a ordenação é necessária. Mas essa batalha já dura há muito tempo.
A Comissão Teológica Internacional, que assessora o Dicastério para a Doutrina da Fé, preparou relatórios sobre mulheres diáconas em 1997 e em 2002. A primeira teria determinado que não havia doutrina contra a ordenação de mulheres como diáconos, mas nunca apareceu: o prefeito da época, o cardeal Joseph Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI), recusou-se a assiná-lo.
O segundo relatório, embora tentasse encerrar a discussão com passagens não citadas de um livro do professor de Munique, Pe. Gerhard L. Müller, concluiu que ordenar mulheres como diáconas era uma questão para o "ministério de discernimento" da Igreja. Müller mais tarde se tornou prefeito da CDF.
Discernimento é uma palavra importante na sinodalidade. Mas quem está discernindo o que para quem? O povo de Deus concorda que a missão da Igreja é levar o Evangelho ao mundo. Essa tarefa é o principal dever do diácono. E o povo de Deus parece pensar que ordenar mulheres novamente para essa tarefa é uma boa ideia.
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No Sínodo da Igreja Católica, faltam os diáconos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU